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Dalai Lama: por que tenho esperança no futuro do mundo

September 12, 2019 4:10 pm    Back to Home

O Washington Post | Por o Dalai Lama | 13 de junho de 2016

 O 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, é o líder spiritual do Tibete. Desde 1959, ele vive no exílio em Dharamsala, no norte da Índia.

Quase seis décadas se passaram desde que deixei minha terra natal, o Tibete, e me tornei um refugiado. Graças à bondade do governo e do povo da Índia, nós tibetanos encontramos uma segunda casa, onde pudemos viver com dignidade e liberdade e pudemos manter vivas nossa língua, nossa cultura e nossas tradições budistas.

Minha geração foi testemunha de uma violência sem tamanho – alguns historiadores estimam que mais de 200 milhões de pessoas foram mortas em conflitos durante o século XX.

Hoje, não conseguimos ver um fim para esta terrível violência no Oriente Médio, que no caso da Síria, tem provocado a maior crise de refugiados em uma geração. Ataques terroristas chocantes, que – como fomos tristemente lembrados nesse fim de semana -, tem gerado um medo profundamente arraigado. Embora seja fácil perder as esperanças e sentir uma sensação de desespero, é por isso que é mais necessário sermos realistas e otimistas nesses primeiros anos do século XXI.

dalai-lama-kalachakra-teachingsHá muitas razões para termos esperanças. O reconhecimento de direitos humanos universais, incluindo o direito à autodeterminação, tem se expandido muito além do que podia ser imaginado um século atrás.  Há um crescente consenso internacional em apoio à igualdade de gênero e ao respeito às mulheres. Nas gerações mais jovens, particularmente, há uma ampla rejeição à guerra como método de solução de problemas. Em todo o mundo, muitos estão fazendo um trabalho valioso para impedir o terrorismo, reconhecendo a gravidade desse mal-entendido e dessa ideia divisiva de “nós” e “eles” que é tão perigosa. Reduções expressivas no arsenal de armas nucleares no mundo significam que estabelecer um cronograma para reduções ainda maiores e, enfim, para a eliminação das armas nucleares – convicção recentemente reiterada pelo presidente Obama em Hiroshima, Japão – não parece mais um mero sonho.

A noção de vitória absoluta de um lado e derrota de outro está completamente ultrapassada; em algumas situações, após um conflito, o sofrimento surge de um estado que não pode ser descrito nem com guerra nem como paz. Violência inevitavelmente gera mais violência. De fato, a história mostra que a resistência não violenta produz democracias mais duradouras e pacíficas e é mais bem sucedida em remover regimes autoritários do que o confronto violento.

Não basta simplesmente rezar. Existem soluções para muitos dos problemas que enfrentamos; é preciso criar novos mecanismos para o diálogo, junto com sistemas de educação para incutir valores morais. Estes devem ter por base a perspectiva de que todos nós pertencemos a uma única família de seres humanos e que juntos podemos agir para enfrentar os desafios globais.

É motivante vermos pessoas comuns em todo o mundo demostrando grande compaixão perante a situação dos refugiados; de pessoas que os resgataram no mar, até aquelas que os acolheram e ofereceram amizade e apoio. Como eu mesmo sou um refugiado, identifico-me bastante com a situação deles, e quando vemos a angustia deles, devemos fazer tudo ao nosso alcance para ajudá-los. Também consigo entender o receio que os cidadãos dos países que recebem os refugiados têm. Deve ser uma sensação consternadora. A combinação de circunstâncias evidencia a importância vital de uma ação conjunta para restabelecer uma paz genuína no território de onde esses refugiados estão fugindo.

Os refugiados tibetanos sabem bem como é viver nessas circunstâncias e, embora ainda não seja possível retornar à nossa terra natal, somos muitos agradecidos pela ajuda humanitária que recebemos nas últimas décadas de alguns amigos, inclusive do povo dos Estados Unidos.

Outra fonte de esperança tem sido a cooperação genuína entre as nações do mundo em torno de um objetivo comum, como evidenciado no Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas. Em uma época em que o aquecimento global ameaça a saúde desse planeta que é nosso único lar, só vamos conseguir alcançar os interesses nacionais e locais se tivermos em mente o interesse maior do mundo.

Tenho uma conexão pessoal com esse tema porque o Tibete é a região de planalto mais alta do mundo e é um epicentro de mudanças climáticas, tendo aumentado sua temperatura média quase três vezes mais rápido do que o resto do mundo. Trata-se do maior depósito de água do mundo, excluindo as calotas polares e é onde se origina o sistema de rios mais extenso da Terra, o qual é crucial para 10 das nações que são as mais densamente povoadas do mundo. Para encontrarmos soluções para a crise ambiental e para os conflitos violentos que se apresentam no século XXI, precisamos buscar novas respostas. Embora seja um monge budista, acredito que essas soluções não serão encontradas na religião, mas sim na promoção de um conceito que eu chamo de ética secular. Essa é uma abordagem para nos educarmos com base nas descobertas científicas, na experiência comum e no senso comum – uma abordagem universal para a promoção dos valores humanos que compartilhamos.

Durante mais de três décadas, meus debates com pessoas que trabalham na área social, cientistas e educadores do mundo inteiro revelaram preocupações comuns. Como resultado disso, nós temos desenvolvido um sistema que incorpora a educação do coração, mas que se baseia em estudos do funcionamento da mente e das emoções realizados por meio de investigações acadêmicas e científicas em vez de práticas religiosas. Uma vez que precisamos de princípios morais – compaixão, respeito pelo próximo, gentileza, responsabilidade – em todos os campos da atividade humana, temos trabalhado para ajudar escolas e universidades a criar oportunidades para os jovens poderem desenvolver uma maior autoconsciência, para aprenderem a como lidar com emoções destrutivas e para cultivarem habilidades sociais. Esse tipo de capacitação já está sendo incorporada no currículo de muitas escolas da América do Norte e da Europa – estou participando de trabalhos na Universidade Emory relacionados a um novo currículo sobre ética secular que está sendo introduzido em várias escolas da Índia e dos Estados Unidos.

É nossa responsabilidade coletiva assegurar que no século XXI não se repita a dor e o derramamento de sangue que ocorreram no passado. Dado que a natureza humana é basicamente compassiva, acredito que, dentro de algumas décadas, será possível vermos uma era de paz – mas precisamos trabalhar juntos como cidadãos globais de um planeta compartilhado.

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