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Dalai Lama: por trás da ansiedade, o medo de ser desnecessário

November 7, 2016 12:06 am    Back to Home

 

Por Dalai Lama e Arthur C. Brooks | The New York Times | 4 de novembro de 2016

Em muitos sentidos, nunca houve um melhor momento para se estar vivo. A violência assola alguns cantos do mundo, e muitos ainda vivem sob o domínio de regimes tirânicos. E embora todas as grandes religiões do mundo ensinem amor, compaixão e tolerância, uma violência inimaginável é perpetrada em nome da religião.

E ainda assim, menos dentre nós são pobres, menos têm fome, menos crianças morrem e mais do que em qualquer outro momento da história homens e mulheres são capazes de ler. Em muitos países, o reconhecimento dos direitos das mulheres e das minorias é agora a regra. Ainda há muito trabalho a ser feito, é claro, mas há esperança e há progresso.

E assim, como é estranho ver tanta raiva e descontentamento em algumas das nações mais ricas do mundo. Nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e em todo o continente europeu, as pessoas estão extremamente abaladas pela frustração política e pela ansiedade acerca do futuro. Refugiados e imigrantes clamam pela oportunidade de viver nesses países seguros e prósperos, mas aqueles que já vivem nessas terras prometidas manifestam grande inquietação em relação a seu próprio futuro, que parece beirar a desesperança.

Por quê?

Pesquisas interessantes sobre como as pessoas prosperam podem nos dar uma pista. Em um estudo chocante, os pesquisadores descobriram que idosos que não se sentem úteis para os outros apresentam probabilidade de morrer prematuramente três vezes maior do que aqueles que se sentem úteis. Isso revela uma verdade humana mais ampla: Todos nós precisamos ser necessários.

Ser “necessário” não envolve o orgulho egoísta ou o apego doentio a ser reconhecido pelos outros. Na verdade, consiste de um anseio humano natural por servir aos nossos semelhantes – homens e mulheres. Como os sábios budistas do século XIII ensinavam: “Se acendermos uma tocha para os outros, iluminaremos também o nosso próprio caminho”.

dalai_lama-3843Praticamente todas as grandes religiões do mundo ensinam que trabalhar diligentemente a serviço dos outros é a nossa natureza mais elevada e, portanto, está no centro de uma vida feliz. Pesquisas e estudos científicos confirmam esses mesmos princípios das nossas crenças. Os americanos que priorizam fazer o bem para os outros são quase duas vezes mais propensos a dizer que estão muito felizes com a vida que têm. Na Alemanha, as pessoas que procuram servir à sociedade são cinco vezes mais propensas a dizer que são muito felizes do que aqueles que não vêem o serviço como algo importante. Altruísmo e alegria estão entrelaçados. Quanto mais nos sentimos unidos ao resto da humanidade, melhor nos sentimos.

Isso ajuda a explicar por que a dor e a indignação estão varrendo os países prósperos. O problema não é a falta de riqueza material. É o número crescente de pessoas que sentem que não são mais úteis, não são mais necessárias, não se sentem mais parte de suas sociedades.

Na América de hoje, comparada a 50 anos atrás, um número três vezes maior de homens em idade produtiva estão completamente fora mercado de trabalho. Esse mesmo padrão está sendo observado em todo o mundo desenvolvido – e as consequências não são meramente econômicas. Sentir-se supérfluo é um forte golpe para o espírito humano. Isso leva ao isolamento social e à dor emocional, e cria  condições para as emoções negativas criarem raízes.

O que nós podemos fazer para ajudar? A primeira resposta não é sistêmica. É pessoal. Todas as pessoas têm algo valioso para compartilhar. Deveríamos começar cada dia noa perguntando conscientemente: “O que posso fazer hoje para apreciar os talentos que os outros me oferecem?” Precisamos nos certificar de que a fraternidade global e o senso de união com os outros não sejam apenas idéias abstratas que professamos, mas compromissos pessoais que colocamos conscientemente em prática.

Cada um de nós tem a responsabilidade de tornar isso um hábito. Mas aqueles em posição de responsabilidade têm uma oportunidade especial para expandir a inclusão e construir sociedades que precisem verdadeiramente de todos.

Os líderes precisam reconhecer que uma sociedade compassiva deve criar uma profusão de oportunidades para o trabalho significativo, para que todos os que são capazes de contribuir possam fazê-lo. Uma sociedade compassiva deve proporcionar às crianças educação e treinamento que enriqueçam suas vidas, com maior compreensão ética e com mais habilidades práticas que possam conduzir à segurança econômica e à paz interior. Uma sociedade compassiva deve proteger os vulneráveis, assegurando ao mesmo tempo que essas políticas não aprisionem as pessoas na miséria e na dependência.

Construir uma sociedade assim não é uma tarefa fácil. Nenhuma ideologia ou partido político dispõe de todas as respostas. Pensamentos equivocados de todas as partes contribuem para a exclusão social, e para superá-la precisaremos de soluções inovadoras de todas as partes. Na verdade, o que nos une na amizade e na colaboração não são ideias políticas compartilhadas ou uma mesma religião. É algo mais simples: é uma crença compartilhada na compaixão, na dignidade humana, na importância intrínseca de cada pessoa para contribuir positivamente com um mundo melhor e mais significativo. Os problemas que enfrentamos não levam em conta categorias meramente convencionais; assim também deve ser o nosso diálogo e a nossa amizade.

Muitos estão confusos e assustados ao verem a raiva e a frustração incendiando sociedades que sempre desfrutaram de segurança e prosperidade. Mas a recusa em se contentarem com a segurança física e material revela na verdade algo de muita beleza: uma fome profunda, humana e universal, de serem necessários. Vamos trabalhar juntos para construir uma sociedade que acabe com essa fome.

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