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Humor brincalhão: a arma secreta do Dalai Lama (e como ela também pode ser sua)

February 9, 2017 8:49 pm    Back to Home

Por Jen Christensen, CNN | 7 de fevereiro de 2017

Quando você é o líder espiritual de todo um povo, passou toda a sua vida adulta no exílio, todos os seus movimentos são controlados por guarda-costas sempre vigilantes e você tem que prestar atenção a cada palavra sua por temer provocar um incidente internacional, seria de se pensar que seu rosto refletisse todo o peso do mundo.

Mas, quando você é o Dalai Lama, as rugas mais profundas no seu rosto de 81 anos são as linhas de expressão do sorriso.

Sua Santidade sabe como encontrar alegria em quase tudo e todos, muito por causa do senso de humor dele. É algo que ele usa frequentemente para conquistar plateias e algo que ele acha que todos deveriam adotar para terem uma vida melhor.

O Dalai Lama é muitas vezes brincalhão quando fala, mesmo quando está falando sobre temas sérios, como era o caso no Simpósio.

Quando ele presidiu o Simpósio Emory-Tibete, em dezembro, em um templo imponente de propriedade da Comunidade Tibetana no exílio, localizado em Mundgod, Índia, ele mostrou sua natureza brincalhona logo de cara.

Estavam reunidos milhares de monjas e monges em trajes típicos nas cores bordô e amarela, cientistas de renome mundial, tibetanos e muitos seguidores interessados, ávidos para aprender a “como fazer uma ponte entre a ciência e o budismo para mútuo enriquecimento”.

O público se mostrava tão sério quanto era o tema. Enquanto eles esperavam no templo, eles cochichavam discretamente e se ajeitavam em seus lugares. Finalmente, o gemido grave de um cântico gutural começou, e todos ficaram quietos e se sentaram um pouco mais eretos.

Quando Sua Santidade finalmente surgiu de uma porta lateral, o som das cadeiras de plástico ecoava por todo o salão, à medida que o público ficava de pé e aplaudia. Alguns se prostravam no chão.

O Dalai Lama presidiu o Simpósio Emory-Tibete de estudiosos e cientistas na Universidade Monástica de Drepung, em dezembro.

Sua Santidade entrou vagarosamente, rodeado por monges vestindo os trajes tradicionais e por guarda-costas com roupas ocidentais. Dois monges gentilmente o ajudaram a descer um pequeno lance de degraus.

Já na parte de baixo, o Dalai Lama sorriu com grande alegria, rindo e acenando para os amigos reunidos em sua homenagem.

“Quando você sorri, noto que todos a sua volta sorriem. Eu percebo que isso é bem contagioso também”, disse o Dr. Sanjay Gupta, correspondente-chefe de medicina da CNN, em uma entrevista com Sua Santidade despois do evento.

“Basicamente, somos animais sociais”, o Dalai Lama replicou. “Precisamos de amigos. E para desenvolver amizade genuína, confiança é muito importante. Para ter confiança, se você mostra um tipo de respeito genuíno, de amor genuíno, então a confiança vem. Então, aqui eu penso que a expressão de um sentimento acolhedor de um sorriso genuíno é parte disso. Isso é sorriso genuíno”.

O Dalai Lama presidiu o Simpósio Emory-Tibete de estudiosos e cientistas na Universidade Monástica de Drepung, em dezembro.

Mas fica claro que fazer brincadeiras é também algo chave para ganhar o público. Durante o evento, o Dalai Lama finalmente se sentou em sua cadeira com estofado floral, recostado no que parecia ser um travesseiro que um dos monges deve ter pegado da sua própria cama na esperança de deixá-lo mais confortável.

O público fez silêncio, inclinando-se para frente para ouvir o que Sua Santidade tinha a dizer.

Mas, em vez de uma prece ou de uma palavra gentil de sabedoria, ele decidiu que aquele era o momento perfeito para enxugar sua testa. E sem pressa nenhuma, em vez de colocar o lenço branco na mesa que estava perto, ele imediatamente o colocou em cima da sua cabeça, onde o lenço se acomodou como um chapéu esquisito. Dando risadinhas, ele usou o chapéu durante toda a primeira parte do evento, por quase uma hora.

Depois, ele pegou, com certa cerimônia, um frasco de cristal com doces que estava em uma mesa de centro em sua frente. “Isso não é só para decoração”, ele brincou, levantando o frasco. Ele apontou para si mesmo – “comer” – e rapidamente desenrolou o papel de alumínio dourado e jogou a bala na boca.

O comportamento travesso dele, rindo e brincando , fez efeito. O público, que estava solene e respeitoso, começou a rir com ele, entrando no clima imediatamente. Todos pareciam prontos para escutar as discussões sobre temas pesados como “Quais são os constituintes fundamentais do universo, e como ele se originou?” e “Como se estabelece o conhecimento e o que constitui um raciocínio válido?”.

Quando Gupta perguntou depois a Sua Santidade sobre por que ele decidiu usar o lenço de forma tão engraçada, o Dalai Lama admitiu que, em parte, foi porque ele é prático e fica muito quente. Mas ele também sugeriu que havia algo mais profundo: É importante que líderes, particularmente líderes espirituais, “ajam como seres humanos” e sejam divertidos.

Muitas vezes, “todo mundo é muito formal”, ele disse, “Isso é uma autotortura”.

E, embora compreenda que deve respeitar esses líderes, e apesar de receber “zero palavra e zero movimento deles”, às vezes ele tem desenvolvido “um jeito estranho de pensar”, e frequentemente tem a esperança de que algo inesperado possa acontecer para fazer com que os líderes ajam mais como “seres humanos”.

“Eu tive essa experiência em 1954 quando fui a Pequim”, disse Sua Santidade. “Algum embaixador indiano me ligou e veio ao meu quarto. Então, como era comum, algum funcionário chinês do Ministério de Relações Exteriores veio”.

“Todo mundo muito formal desse jeito”, disse ele, e depois imitou uma postura rígida. “Daí, por algum motivo, eles trouxeram algumas frutas, e por algum motivo derrubaram tudo. Depois disso, todo mundo agiu como seres humanos”, disse ele, rindo e imitando pessoas meio perdidas, como ele as viu fazendo quando se movimentavam pelo chão.

Sua Santidade sugere que todos devem se permitir brincar e encontrar o divertido na vida. Em seu livro “Minha jornada espiritual”, ele refere-se a si mesmo como um “gargalhador profissional” e escreve que ele vem de uma família animada que está sempre “se divertindo e provocando-se entre si, brincando. É um hábito nosso”.

Estudos têm demonstrado que ter um riso fácil, uma habilidade de ver humor nas situações cotidianas e ser brincalhão ajuda a reduzir os níveis de estresse nos adultos, tanto para eles próprios quanto para aqueles que estão a sua volta.

Ao serem brincalhões e usarem o humor, as pessoas também se tornam mais observadoras e mais empáticas. Elas frequentemente se entediam menos, aprendem mais, têm mais amigos, e estudos mostram que essas pessoas que estão dispostas a deixar aflorar o lado brincalhão tendem a ter uma sensação melhor de bem-estar geral.

Sua Santidade acredita que não importa o qual difícil sua vida seja, essa abordagem vai te trazer algo muito mais profundo.

“Pensar só no aspecto negativo não ajuda a encontrar soluções e destrói a paz mental”, ele escreve. “Eu amo sorrisos, e meu desejo é ver mais sorrisos, sorrisos verdadeiros… Se nós queremos esses sorrisos, precisamos criar os razões para que eles apareçam”.

*Traduzido de reportagem publicada no site da CNN

 

 

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