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PINTURA THANGKA

October 20, 2016 2:14 pm    Back to Home

Thangkas são pinturas do budismo tibetano que geralmente retratam deidades, cenários ou mandalas budistas.

Método

Para fazer a thangka, primeiro um pedaço de tecido é costurado e esticado em uma moldura de madeira. A tela é preparada com um mistura de giz, gesso e um pigmento base, que é esfregada suavemente com um frasco de vidro até que a textura não fique mais visível.

O desenho da deidade é esboçado em lápis em cima da tela usando linhas de grade iconográficas, e depois se contorna o esboço com tinta preta. Pós, compostos de minerais moídos e de pigmentos orgânicos, são misturados com água e cola para criar a tinta. Alguns dos elementos utilizados são bem preciosos, como o lápis-lazuli, para o azul escuro. O plano de fundo é esfumado e aplica-se o sombreamento usando tanto técnicas com o pincel molhado quanto com o pincel seco. Por fim, uma tinta de ouro puro é adicionada e a thangka é emoldurada em uma bela borda em relevo. Uma thangka padrão, que mede aproximadamente 45 x 30 cm, leva cerca de seis semanas para ser concluída.

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Arte: Norbulingka Institute, Dharamsala, India

Diferentemente dos artistas do ocidente, que podem usar livremente a imaginação para produzir sua arte, os artistas que produzem thangkas precisam seguir critérios extremamente precisos, como se estivessem fazendo o desenho de uma planta baixa. O papel do pintor de thangkas é quase como o de um canal ou de um médium, que ascende acima de sua consciência mundana para trazer uma verdade superior a esse mundo. Para se assegurar de que essa verdade mantém-se intacta, ele deve aderir diligentemente a todas às diretrizes corretas.

História

Historicamente, as thangkas também eram utilizadas como ferramentas para ensinar sobre as vidas de vários mestres. Como essas pinturas podem ser enroladas como um pergaminho, um professor ou lama podia fazer suas viagens para dar palestras sobre o dharma e levar com ele grandes rolos de thankas para ilustrar suas histórias.

O ofício de fazer thangkas era um negócio familiar, que passava de pai para filho por um longo processo de aprendizagem. Quando thangkas, afrescos ou ornamentações nos mosteiros eram encomendados, o mestre levava seu grupo de aprendizes, incluindo seus filhos, para auxiliá-lo no trabalho.

Antigamente, as thangkas eram pintadas sobre um linho branco. Para ocasiões especiais, usava-se a seda. Esse tecido, conhecido como re shi, era preparado com uma base de giz e goma-arábica. Em seguida, o mestre fazia o rascunho com um pedaço de carvão, feito a partir da queima da madeira de tamargueira em um tubo de metal. Depois, o mestre contornava o desenho com tinta preta e marcava cada área da pintura com uma determinada cor. Com essa indicação, os aprendizes começavam a colorir o desenho.

Tradicionalmente, o azul era feito a partir da pedra lápis-lazúli, vermelho vinha do vermelhão do cinábrio, amarelo do enxofre e verde de pedra-verde. O rosa era extraído de pétalas de flores.

Para fazer o pincel, a ponta de uma vara, geralmente de tamargueira ou de bambu, é mergulhada em uma cola. Então, o artista posicionava cuidadosamente as cerdas, uma a uma. As melhores cerdas eram feitas com pelo de zibelina ou de um pequeno gato selvagem dos Himalaias. O ideal é que o pelo seja retirado da cauda de um animal vivo, porque desse jeito o pelo mantém-se mais resistente. Depois de posicionados na ponta da vara, os pelos são presos por um fio de seda que também é mergulhado em uma cola.

Arte: Norbulingka Institute, Dharamsala, India

Arte: Norbulingka Institute, Dharamsala, India

Quando os aprendizes terminam de preencher as cores básicas, o mestre finaliza o trabalho, sombreando com cores mais claras, extraídas de flores ou vegetais. Por fim, ele retoca com ouro. Um aprendiz deixava o ouro bem polido com um instrumento de ponta arredondada feito a partir de ágata.

Tradicionalmente, os olhos da deidade eram deixados por último para que pudessem ser pintados em uma cerimônia especial conhecida como “o abrir dos olhos”.

Quando a pintura é concluída, ela é fixada no tecido. Originalmente, havia duas bordas: uma de um brocado vermelho e uma azul. Mais tarde, também se tornou aceitável que se utilizasse o brocado amarelo e, no estilo moderno, são três bordas: amarela, azul e vermelha. No centro das bordas, abaixo da pintura coloca-se um quadrado feito com um brocado particularmente elaborado, que é conhecido como “a porta”. Em certo sentido, as bordas de brocado representam um edifício que abriga o mundo da pintura. Pela porta quadrada, podemos adentrar nesse mundo.

Para proteção, as thangkas eram envolvidas com véus de seda amarela ou vermelha, que são as cores usadas nas vestimentas da sangha (ou comunidade do dharma). Dois laços vermelhos prendem o véu de seda. Esses laços, chamados lung non (prendedores de vento), vêm do tempo em que as thangkas eram penduradas em tendas e era preciso amarrá-las nas paredes por causa do vento. O rolo que fica na base dos brocados é decorado com duas ponteiras de ouro ou e prata

Existe uma concepção generalizada de que pintar thangkas seria uma forma de meditação. Mas isso não é verdade. Embora toda thangka retrate temas religiosos, a maioria dos artistas eram leigos. É verdade que a maioria dos mestres de pintura de thangkas tinha um conhecimento tal sobre os detalhes da iconografia que provavelmente deixaria um monge iniciante pasmo. Além disso, era natural que os artistas nutrissem certa reverência pela sacralidade do trabalho que faziam. Mesmo assim, a pintura de thangkas era antes um ofício do que um exercício religioso. A exceção é a nyin thang (“thangka de um dia só”), prática em que, como parte de um determinado sadhana, enquanto recita o mantra adequado, ininterruptamente, sem dormir, um monge pinta uma thangka durante um período de 24 horas.

As thangkas eram encomendadas para ocasiões sociais ilustres: para o bem-estar de um recém-nascido, para a liberação de alguém falecido, para o início de algum projeto novo, etc. Frequentemente, gurus com predisposições artísticas ou abades pintavam thangkas para glorificar suas linhagens ou para mostrar a riqueza ou a inspiração de suas tradições.

Thangkas eram usadas como objetos de adoração, mas principalmente como um meio de refinar a visualização na meditação. Elas eram dispostas em altares organizados com lamparinas de manteigas, incenso, oferendas e objetos de rituais de todo tipo. As thangkas que retratam a vida de santos eram dispostas nas celebrações de feriados relacionados a eles. Nessas ocasiões, também eram penduradas thangkas especiais, pintadas por grandes mestres de uma determinada linhagem.

Praticantes penduravam as thangkas do seus yidams ou gurus nos seus quartos, em cima dos altares, como um lembrete constante da presença deles. No Tibete, salas solenes eram ornadas com thangkas para receber convidados importantes como reis, oficiais do governo ou eminentes professores espirituais. Algumas vezes, thangkas eram penduradas na sala de reuniões de líderes locais.

As thangkas nunca eram revendidas, mas podiam ser presenteadas pelo comprador original.

Meditação

Tradicionalmente, a pintura de thangkas é mais valorizada pelo seu uso como suporte em práticas de meditação do que pela sua beleza estética. Praticantes usam as thangkas para desenvolver uma visualização clara de uma determinada deidade, fortalecendo a concentração e estabelecendo uma conexão entre eles mesmos e a deidade.

Além de ser um apoio para a prática espiritual, encomendar uma thangka é considerado um meio de gerar méritos espirituais.  E, muitas vezes, quando um lama é consultado por uma pessoa que está passando por momentos difíceis, ele pode recomendar que se faça uma thangka de uma deidade específica, que servirá como um remédio. O artista então faz o design da thangka com base nas referências das medidas das deidades que estão detalhadas nas escrituras, seguindo as instruções do lama. Criar essas thankgas, que são únicas, demanda ampla pesquisa, especialmente porque as descrições explicando as proporções de cada deidade não estão compiladas em apenas um texto; elas estão em diferentes volumes em meio às centenas de volumes de escrituras budistas. Além disso, alguns textos não podem nem ser tocados, a não ser por alguém que tenha recebido uma iniciação adequada para aquela determinada deidade.

As deidades que aparecem nas pinturas thangkas são geralmente representações de visões que apareceram para grandes mestres espirituais em momentos de realização, os quais foram então gravados e incorporados à escritura budista. As proporções são consideradas sagradas não apenas porque se tratam de representações fiéis das deidades budistas, mas também porque é a expressão visual de realizações espirituais que ocorreram no momento de uma visão. A pintura de thangkas é, portanto, um meio bidimensional para ilustrar uma realidade espiritual multidimensional.

Praticantes utilizam as thangkas como um tipo de mapa do caminho para guiá-los até a origem do insight do mestre. Esse mapa deve ser preciso e é responsabilidade do artista se assegurar disso para que a thangka seja considerada genuína, ou para que seja útil como um suporte em práticas budistas, guiando o praticante até o lugar apropriado.

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Arte: Norbulingka Institute, Dharamsala, India

Estilos

A arte sagrada das pinturas thangkas remonta ao século VII. Originária do Nepal, ela evoluiu formando diversas escolas de pintura. As três escolas principais são a Kadam, a Menri e a Karma Gardri.

Escola Kadam – A escola Kadam, a mais antiga e clássica, evidencia-se pela simplicidade, pela vastidão e pelo foco no essencial.

Escola Menri – Posteriormente veio a também clássica escola Menri, que surgiu no século XV por meio de um artista conhecido como Menla Tondrup, que vinha de uma família de grandes médicos. Nessa escola, mantém-se a simplicidade e a vastidão, mas com uma ênfase maior na riqueza de detalhes, o que denota uma maior influência da Pérsia.

A Nova Menri, um desdobramento da escola Menri no século XVII, é um tanto barroca e cheia de cores, talvez até de uma riqueza intimidadora. Há, nesse estilo, um grande destaque nas linhas mais curvas em lugar das mais retas e muito pouco espaço vazio.

Escola Karma Gardri – A terceira das escolas principais é a Karma Gardri, que se desenvolveu no século XVI, notadamente por meio do oitavo Karmapa, Mikyo Dorje. Esse estilo foi aprimorado mais tarde pelo renomado mestre Chokyi Jungne, oitavo Dai Situ e fundador do monastério Pelphung, em um período em que havia um renascimento generalizado da arte budista tibetana, particularmente no campo das rupas (esculturas de imagens).

O estilo Karma Gardri é claro, preciso, vasto e, em alguns pontos, rico em detalhes. Ele é marcado pela influência chinesa, que se evidencia pelo uso de cores pastel e por notáveis aspectos estilizados da paisagem.

Aspirantes a artistas de thangkas devem passar anos estudando as linhas de grade da iconografia e as proporções de diferentes deidades e depois dominar a técnica de misturar e aplicar os pigmentos minerais. Tradicionalmente, um curso de formação para pintores de thankas durava aproximadamente 7 anos. Mas, atualmente, institutos renomados como o Norbulingka oferecem programas de treinamento de três anos para estudantes tibetanos. Depois de completar o curso de três anos, a maioria dos artistas se junta aos workshops, onde eles devem completar mais três anos como aprendizes, antes de serem plenamente considerados artistas qualificados.

Atualmente, tem sido cada vez mais raro encontrar thangkas genuínas em função do tempo que leva para aprender essa técnica e para produzir uma pintura de maneira adequada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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