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Seis hábitos de Pessoas Altamente Empáticas

February 11, 2018 5:27 pm    Back to Home

Por Roman Krznaric | 8 de janeiro de 2017

Estaríamos vivendo na Era da Empatia?

Se você acha que está ouvindo a palavra “empatia” em tudo que é lugar, você está correto. Está na boca de cientistas e líderes empresariais, de especialistas em educação e ativistas políticos. Mas existe uma pergunta crucial que poucas pessoas se fazem: Como posso expandir o meu próprio potencial empático? A empatia não é apenas uma maneira de ampliar os limites do seu universo moral. De acordo com pesquisas recentes, é um hábito que podemos cultivar para melhorar a qualidade de nossas próprias vidas.

Mas o que é empatia?  Trata-se da capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, visando entender os sentimentos e perspectivas dela, e usar esse conhecimento para guiar nossas ações. Isso é o que diferencia empatia de bondade ou de ter pena. E não se deve confundi-la com a Regra de Ouro: “faça aos outros o que gostaria que fizessem a você”. Como bem observou George Bernard Shaw: “Não faça aos outros o que gostaria que fizessem com você – eles podem ter gostos diferentes”. Empatia é justamente descobrir quais são esses gostos.

Todo o burburinho que tem sido feito em relação à empatia vem da mudança revolucionária que ocorreu na ciência sobre a maneira como entendemos a natureza humana.  A antiga visão de que somos essencialmente criaturas egoístas tem sido deixada de lado em função das evidências de que nós também somos homo empathicus, programados para empatia, cooperação social e ajuda mútua.

O cérebro empático

Durante a última década, neurocientistas identificaram um circuito empático em nosso cérebro formado por 10 seções que, se lesionadas, podem limitar nossa habilidade de entender o que outras pessoas estão sentindo. Biólogos evolucionistas, como Frans de Waal, tem demonstrado que somos animais sociais que naturalmente evoluíram para cuidar uns dos outros, assim como nossos primos primatas. E psicólogos tem revelado que nós somos versados em empatia nos nossos primeiros dois anos de vida quando desenvolvemos fortes vínculos de relacionamentos.

Mas a empatia não para de se desenvolver na infância. Podemos nutrir o crescimento dela ao longo de nossas vidas – e podemos usá-la como uma força poderosa de transformação social. Pesquisas em sociologia, psicologia, história – e os próprios estudos que tenho feito sobre personalidades empáticas durante os últimos dez anos – relevam como podemos fazer da empatia uma atitude que seja parte da rotina do nosso dia-a-dia, e, dessa forma, aprimorar as vidas de todos que estão a nossa volta. Aqui vão os Seis Hábitos de Pessoas Altamente Empáticas!

Hábito 1: Cultive curiosidade por desconhecidos

Pessoas Altamente Empáticas têm uma curiosidade insaciável em relação a estranhos. São aqueles que vão falar com a pessoa que senta do lado deles no ônibus, mantendo aquela atitude questionadora natural que todos nós tínhamos quando crianças, mas que a sociedade é tão boa em arrancar da gente. Eles acham que outras pessoas são mais interessantes que eles mesmos, contudo, não estão ali para interrogá-los. Eles respeitam o conselho do historiador oral Studs Terkel: Não seja um examinador, pergunte com interesse.

A curiosidade expande nossa empatia quando conversamos com pessoas de fora do nosso círculo social habitual, na medida em que nos deparamos com vidas e perspectivas de mundo muito diferentes das nossas. Curiosidade é bom para a gente também: o guru da felicidade Martin Seligman identifica curiosidade como uma força de caráter chave que pode aumentar nossa satisfação na vida. Além de ser um remédio útil para a solidão crônica que tem afligido quase um entre três americanos.

Cultivar curiosidade requer mais que ter uma rápida conversa sobre o tempo. Essencialmente, é preciso tentar entender o mundo dentro da cabeça da outra pessoa. Nós nos deparamos com estranhos todos os dias, como a mulher cheia de tatuagens que entrega a correspondência ou o novo empregado que sempre almoça sozinho. Estabeleça para você mesmo o desafio de ter um conversa com um estranho toda semana. Tudo que você precisa é coragem.

Hábito 2: Desafie seus preconceitos e descubra coisas em comum.

Nós todos fazemos suposições sobre os outros e usamos rótulos coletivos – por exemplo, “islâmico fundamentalista”, “mãe para ganhar bolsa família” – que nos impedem de apreciar a individualidade deles. As Pessoas Altamente Empáticas enfrentam seus próprios pré-conceitos e preconceitos na medida em que procuram por coisas que compartilham com as pessoas; e não pelo que os dividem. Um episódio que ocorreu na história racial dos Estados Unidos ilustra como isso pode acontecer.

Claiborne Paul Ellis nasceu em uma família de brancos pobres em Durham, na Carolina do Norte, em 1927. Com dificuldades para pagar as contas, trabalhando em uma oficina e acreditando que os afro-americanos eram a causa de todos os problemas dele, ele seguiu os passos do pai e se filiou a Ku Klux Klan (KKK)*, eventualmente alcançando a mais alta posição de “Elevado Ciclope” (Exalted Cyclops) da filial local do KKK.

*grupo que historicamente se reúne sob a bandeira da segregação racial e da crença na superioridade do “homem branco”.

Em 1971, ele foi convidado – por ser um cidadão local de destaque – para um encontro da comunidade que iria durar dez dias para lidar com as tensões raciais nas escolas.  Acabou sendo escolhido para liderar o comitê de coordenação com Ann Atwater, uma ativista negra que ele desprezava. Mas trabalhar com ela explodiu os preconceitos dele em relação aos afro-americanos. Ele viu que ela passou pelas mesmas dificuldades da pobreza que ele próprio. “Eu estava começando a olhar para um negro, apertar a mão dele e vê-lo como um ser humano”, disse ele, relembrando a experiência no comitê. “Foi quase como nascer de novo”. Na última noite do encontro, ele rasgou o cartão dele de membro do Klan diante de mil pessoas.

Ellis se tornou depois um líder sindical de uma organização em que 70 por cento dos associados era afro-americanos. Ele e Ann permaneceram amigos pelo resto da vida. Talvez não haja melhor exemplo do poder da empatia para vencer o ódio e mudar as nossas mentes.

Hábito 3: Experimente a vida de outra pessoa

Você acha mesmo que escalada no gelo ou voar de asa delta são esportes radicais? Então você precisa experimentar a empatia experiencial: o mais desafiador – e potencialmente mais gratificante – de todos. Pessoas Altamente Empáticas expandem a empatia adquirindo uma experiência direta da vida de outras pessoas. Eles colocam em prática o provérbio dos indígenas norte-americanos: “ande por um quilômetro com o mocassim do outro antes de criticá-lo”.

George Orwell é um exemplo inspirador. Depois de muitos anos como oficial da polícia colonial britânica em Burma (atual Myanmar), na década de 1920, Orwell retornou para a Grã-Bretanha determinado a descobrir como era a vida daqueles que viviam à margem da sociedade. “Eu queria submergir, descer junto aos oprimidos”, escreveu ele. Então, ele se vestiu como um mendigo, com sapatos e casacos maltrapilhos, e viveu nas ruas da zona leste de Londres com pedintes e desocupados. O resultado, registrado em seu livro Na pior em Paris e Londres, foi uma mudança radical em suas crenças, prioridades e relacionamentos.  Orwell não só compreendeu que as pessoas em situação de rua não são “bêbados safados”, como fez novas amizades, mudou sua visão sobre a desigualdade e juntou um material literário magnífico. Foi a melhor experiência de viagem da vida dele. Ele compreendeu que empatia não apenas te faz uma pessoa do bem, mas também faz bem para você.

Todos nós podemos fazer os nossos próprios experimentos. Se você for uma pessoa religiosa, experimente fazer uma “troca de Deus”, indo a cerimônias religiosas que professem fé diferente da sua, incluindo encontros de Humanistas. Ou, se você for ateu, experimente ir a diferentes igrejas. Passe suas próximas férias vivendo e trabalhando como voluntário em um país em desenvolvimento. Siga o caminho que defendia o filósofo John Dewey, que falava: “toda educação genuína vem da experiência”. 

Hábito 4: Ouça bastante e tenha abertura

Há duas características que são necessárias para ser uma pessoa boa de conversa empática.

Uma é dominar a arte da escuta radical. “O essencial”, afirma Marshall Rosenberg, psicólogo e fundador da Comunicação Não-Violenta (CNV), “é nossa habilidade de estar presente para o que realmente está acontecendo ali dentro – para aqueles sentimentos e necessidades que só aquela pessoa está vivenciando naquele exato momento”.  Pessoas Altamente Empáticas ouvem os outros com intensidade e fazem tudo que podem para compreender o estado emocional e as necessidades deles, seja a pessoa um amigo que tenha acabado de ser diagnosticado com câncer ou a esposa que está chateada porque ele vai ter que trabalhar até tarde mais uma vez.

Mas não basta ouvir. A segunda característica é expor nossa própria vulnerabilidade. Remover nossas máscaras e revelar nossos sentimentos a alguém é vital para que seja criado um forte vínculo empático. Empatia é uma via de mão dupla que, na sua forma mais elevada, é construída sobre o entendimento mútuo – uma troca em que compartilhamos nossas crenças e experiências mais importantes.

Organizações como o Círculo de Pais Israelo-palestiniano colocam tudo isso em prática quando juntam famílias de vítimas dos dois lados do conflito para se reunirem, ouvirem, e falarem. Compartilhar histórias sobre como seus entes queridos morreram possibilita que as famílias compreendam que elas compartilham a mesma dor e o mesmo sangue, embora estejam em lados opostos do muro político. E isso tem ajudado a criar um dos mais poderosos movimentos sociais de construção da paz.

Hábito 5: Inspire ações de grande escala e de transformação social

Normalmente, presumimos que a empatia ocorre entre indivíduos, mas as Pessoas Altamente Empáticas compreendem que empatia também pode ser um fenômeno de massa que leva a transformações sociais fundamentais.

Pense nos movimentos antiescravistas no século XVIII e XIX em ambos os lados do Atlântico. Como o jornalista Adam Hochschild nos lembra: “Os abolicionistas não colocaram a esperança deles em textos sagrados, mas sim na empatia humana”, fazendo tudo que podiam para fazer com que as pessoas compreendessem a real situação de sofrimento que se passava nas plantações e nos navios negreiros. Da mesma forma, o movimento sindical internacional cresceu em função da empatia que havia entre os trabalhadores industriais que se uniram por causa da exploração que sofriam. A impressionante resposta das pessoas ao tsunami asiático de 2004 surgiu de um sentimento de preocupação empática pelas vítimas, cuja situação foi exibida em nossos lares de forma dramática em vídeos que chacoalhavam.

É muito mais provável que a empatia floresça em uma escala coletiva se as sementes forem plantadas em nossas crianças. É por isso que Pessoas Altamente Empáticas apoiam iniciativas como a iniciativa canadense pioneira “Raízes da Empatia” (Roots of Empathy), o mais efetivo programa de ensino de empatia do mundo, que tem beneficiado mais de meio milhão de crianças em escolas. O currículo único dessa iniciativa foca em crianças, com ênfase no aprendizado de inteligência emocional – e os resultados incluem reduções significativas de bullying no playground e níveis mais elevados de desempenho acadêmico.

Além da educação, o grande desafio é descobrir como a tecnologia de redes sociais pode mobilizar o poder da empatia para criar ações políticas de massa. O Twitter pode ter levado pessoas para as ruas no Ocupe Wall Street (Ocupy Wall Street) e na Primavera Árabe, mas será que ele consegue nos convencer a nos preocupar profundamente com o sofrimento de estranhos em lugares distantes, sejam eles produtores rurais na África sofrendo com a seca ou sejam as futuras gerações que vão ter que suportar o impacto do nosso modo de vida viciado em carbono? Isso só vai acontecer se as redes sociais aprenderem a espalhar não apenas informações, mas também conexões empáticas.

Hábito 6: Desenvolva uma imaginação ambiciosa

Uma última característica de Pessoas Altamente Empáticas é que elas fazem muito mais do que ter empatia pelo público-alvo habitual. Nós tendemos a acreditar que empatia deve ficar reservada para aqueles que vivem à margem da sociedade ou que estão sofrendo. Isso é necessário, mas não está nem perto de ser o bastante.

Também precisamos ter empatia por pessoas cujas crenças não compartilhamos ou que, de alguma forma, são consideradas “inimigas”. Se você é um ativista do aquecimento global, por exemplo, pode valer a pena tentar se colocar no lugar de executivos de companhias de petróleo – compreendendo o pensamento e as motivações deles – se você quiser elaborar estratégias efetivas para colocá-los no rumo do desenvolvimento de energias renováveis. Um pouco dessa “empatia instrumental” (às vezes conhecida como “antropologia de impacto”) pode ir longe.

Ter empatia por adversários é também uma via para a tolerância social. Esse era o pensamento de Gandhi durante os conflitos entre muçulmanos e hindus que antecederam a independência da Índia em 1947, quando ele declarou: “Eu sou um muçulmano! E um hindu, e um cristão e um judeu”.

Organizações, também, devem ser ambiciosas com seu pensamento empático. Bill Drayton, o renomado “pai do empreendedorismo social”, acredita que, em uma era marcada pela rápida mudança tecnológica, adquirir domínio sobre a empatia é a habilidade crucial para a sobrevivência do negócio, uma vez que ela está na base do sucesso do trabalho em equipe e da liderança. A influente Fundação Ashoka, criada por ele, lançou a iniciativa “Ativando Empatia”, que está levando suas ideias para líderes empresariais, políticos e educadores de todo o mundo.

No século XX, tivemos a Era da Introspecção, quando a autoajuda e a cultura da terapia nos encorajaram a acreditar que o melhor jeito de entender quem nós somos e como devemos viver era olhando para dentro de nós mesmos. Mas isso nos deixou focados em nossos próprios umbigos. O século XXI deve se tornar a Era da Empatia, quando nós descobriremos a nós mesmos não simplesmente por meio da autorreflexão, mas gerando interesse pelas vidas dos outros. Precisamos de empatia para criar um novo tipo de revolução. Não uma revolução antiquada criada por novas leis, instituições ou políticas, mas uma revolução radical nos relacionamentos humanos.

*Traduzido do artigo publicado no site UPLIFT (http://upliftconnect.com/six-habits-highly-empathic-people)

 

 

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