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Por Dr. Sanjay Gupta, Correspondente-chefe de medicina da CNN | 15 de fevereiro de 2017.
(CNN) Nesses últimos dois meses, tenho sido um homem diferente. É difícil descrever totalmente, a não ser que, em geral, tenho estado mais de bom-humor e mais paciente do que o normal.
No passado, minha família e meus amigos normalmente me descreveriam como uma pessoa agradável, porém apressada. Meu padrão agitado e nervoso, no entanto, agora quase desapareceu.
Sem muita dificuldade, tenho conseguido manter a atenção quando estou passando tempo com meus filhos pequenos. Em vez de uma constante vigilância ao meu celular, há uma habilidade de rapidamente hiper-focar na tarefa que está na minha frente e uma correspondente felicidade de viver em um mundo sem distrações.
Essa mudança parece ter começado no fim do ano passado, depois que passei uma manhã meditando com o Dalai Lama.
Antes de qualquer coisa: Sim, eu me sinto um pouco ridículo escrevendo uma frase dessas; e, na hora, não me senti digno do convite dele. Embora medite, nunca tive certeza se estava usando uma técnica adequada ou se havia uma maneira correta de meditar na presença de Sua Santidade.
Se ele estava esperando um bom parceiro de meditação, receio que dificilmente ele tenha encontrado isso em mim. Até a minha postura é horrível quando sento de pernas cruzadas no chão. Minhas costas começam a doer e em seguida meus joelhos. Logo, minha respiração, que deveria guiar meu foco, soa rouca e irregular. Tudo isso faz minha mente acelerar em vez de suavizar e acalmar.
Só de pensar que meditaria com Sua Santidade, já estava me deixando nervoso.
Mesmo assim, quem diz “não” para a oportunidade de meditar com o Dalai Lama? Concordei em encontrá-lo na manhã seguinte, em sua residência privada.
Uma prática que começa às 3h da manhã
Aos 81 anos, o Dalai Lama mantém uma agenda bastante ativa. Encontrei-o em Mundgod, Índia, no Monastério Drepung, onde ele acompanhava um simpósio que fazia uma ponte entre budismo e ciência.
O monastério em si é uma estrutura deslumbrantemente adornada, construída há 600 anos. Dentro dele, há enormes budas dourados, posicionados ao lado de paredes ornamentadas. A sala de conferências em si é grandiosa, mas acolhedora, com portas e janelas abertas para o ardente sol do sul da Índia.
Por três dias, Sua Santidade moderou debates sobre assuntos metafísicos pesados como os critérios para um raciocínio válido, os componentes elementares do universo, a origem da vida e a experiência subjetiva da mente.
Foi fascinante e estonteante – mas também mentalmente exaustivo. Foi difícil ficar acordado, que dirá acompanhar o ritmo frenético do debate entre os budistas e os cientistas. Ainda assim, Sua Santidade ficou com a mente engajada e curiosa de ponta a ponta, o que é muito impressionante, dado que mais da metade dos comentários eram traduzidos para ele.
O Dalai Lama normalmente acorda às 2h40 da manhã e começa sua rotina diária de meditação às 3h da manhã, quando até mesmo a maioria de sua equipe ainda está cochilando.
Esse era o contexto quando um membro sênior da equipe dele veio me buscar do lado de fora do monastério bem cedo de manhã. Nós partimos em um comboio de três carros até os portões da entrada da residência privada dele.
De lá, diversos outros membros da equipe nos escoltaram até uma pequena sala de reuniões onde a equipe de segurança lentamente andava e tomava o chá da manhã. Enfim, o chefe da equipe me levou até quase na porta das dependências pessoais do Dalai Lama.
Meditar também é difícil para ele
Foram dadas pequenas instruções antes de entrarmos. Olhar no olho não é problema, e apertar as mãos é permitido desde que você use as duas mãos, e não apenas uma. Tente não virar as costas para ele quando estiver saindo do quarto. Em vez disso, tente andar de costas o máximo que for possível voltado para ele. Quando sentar de pernas cruzadas no chão, não aponte seus pés na direção do Dalai Lama. E, a forma de tratamento correta é “vossa santidade”.
Pouco tempo depois, as portas se abriram, e eu, nervoso, entrei em um quarto bastante modesto, onde o Dalai Lama estava sentando em uma plataforma elevada, já em meditação profunda. Tirei os sapatos, sentei no chão com as pernas cruzadas, levemente anguladas de forma que meus dedões não apontassem na direção dele, fechei meus olhos e comecei a focar na minha respiração.
Todas as minhas inseguranças em relação à meditação começaram a pipocar. Depois de alguns minutos, ouvi a voz grave de barítono que lhe é peculiar: “Alguma pergunta?”.
Olhei para cima e vi o rosto sorridente dele, quase começando a cair naquela risada característica em que ele sacode a cabeça.
“É difícil para mim”, eu disse.
“Para mim também!”, exclamou ele. “Depois de fazer isso diariamente por 60 anos, continua difícil”.
Foi ao mesmo tempo surpreendente e confortante ouvir ele dizer isso. O Dalai Lama, monge budista e líder espiritual do Tibete, também tem dificuldades para meditar.
“Acho que você vai gostar de meditação analítica”, ele me disse. Em vez de focar em um objeto de sua escolha, como na meditação em um único ponto, ele sugeriu pensar em um problema que eu estivesse tentando resolver, algum assunto que eu tivesse lido recente ou uma das áreas filosóficas dos recentes debates.
Ele queria que eu isolasse o problema ou questão de todo o resto, colocando-o em uma bolha grande e cristalina. Com os olhos fechados, pensei em algo que me incomodava – algo que eu não estava conseguido resolver. À medida que ia colocando a representação física desse problema dentro da bolha, várias coisas começaram a acontecer de forma bastante natural.
O problema estava agora bem diante de mim, flutuando levemente. Dentro da minha mente, eu conseguia rodá-la, girá-la ou virá-la de cabeça para baixo. Era um exercício para desenvolver o hiper-foco.
De forma menos intuitiva, à medida que a bolha subia, ela também se desvencilhava de quaisquer outros apegos que eu tinha, como preocupações emocionais subjetivas. Eu conseguia visualizá-la, conforme o problema se isolava, e passei a ter uma visão nítida.
Frequentemente, permitimos que fatores emocionais não relacionados desfoquem a solução prática e elegante que está diante de nós. Isso desanima e frustra. Por meio da meditação analítica, me disse Sua Santidade, podemos usar a lógica e a razão para mais claramente identificar o problema em questão, separando-o de fatores irrelevantes, dirimindo dúvidas e iluminando de forma clara a resposta. Foi simples e sensível. E o mais importante para mim – funcionou.
Meditação para céticos
Enquanto neurocientista, nunca imaginei que um monge budista, mesmo o Dalai Lama, iria me ensinar a como melhor incorporar o método dedutivo e o pensamento crítico na minha vida – mas foi o que aconteceu.
Isso me mudou. Sou uma pessoa melhor por causa disso. Pratico meditação analítica todo dia, geralmente de manhã. Os primeiros dois minutos ainda são os mais difíceis, que é quando crio minha bolha e a deixo flutuar em cima de mim. Depois disso, eu alcanço o que pode ser melhor descrito como um estado de fluxo (“flow”), em que 20 a 30 minutos passam voando.
Estou mais convencido do que nunca que os mais ferrenhos céticos podem ter sucesso com a meditação analítica.
Durante as férias, passei o maior tempo possível repassando os ensinamentos do Dalai Lama para minha família e amigos e ensinando os princípios básicos da meditação analítica. Esse foi o presente que eu mais gostaria de compartilhar com eles. E agora com você.
*Traduzido de reportagem publicada no site da CNN
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