Por Susan Bauer-Wu / 12 de julho de 2018

No mundo cada vez mais dividido, a educação se apresenta como uma das ferramentas mais poderosas para preparar uma geração de jovens mediadores, cidadãos globais comprometidos com o bem comum. Com mais de um quarto da população mundial abaixo dos 15 anos, construtores de pontes e cidadãos globais comprometidos com o bem comum. Com mais de um quarto da população mundial com menos de 15 anos, os riscos não poderiam ser maiores – ou as oportunidades maiores.

Enquanto os sistemas educacionais há muito enfatizam o desempenho acadêmico e o avanço individual, um movimento crescente vem exigindo uma educação para o coração. E isso é uma boa notícia para todos nós.

O Instituto Mind & Life (MLI) tem se esforçado muito para conectar a pesquisa sobre práticas contemplativa com as necessidades do mundo real. Por compreender o papel crucial da educação, esse se tornou um tema crítico entre nossos pesquisadores. Nossas Bolsas PEACE, lançadas em 2017, apóiam estudos destinados a promover comportamentos pró-sociais e nutrir qualidades saudáveis ​​como empatia, compaixão e altruísmo. Entre os tópicos que estão sendo explorados pelos bolsistas atuais estão o preconceito racial na sala de aula e o uso de meditação  sobre o amor universal (mettabhavana) para aliviar o estresse entre estudantes universitários que discutem desigualdades sociais.

A forma como educamos as crianças de hoje para serem cidadãos compassivos, bondosos e atenciosos foi o foco do 33º Diálogo Mente e Vida, realizado em Dharamsala, Índia, em março. Os principais cientistas, acadêmicos e professores reuniram-se neste ambiente sagrado para compartilhar suas pesquisas e inovações com o Dalai Lama, convidados e uma audiência on-line de centenas de milhares. As apresentações no evento podem ser visualizadas no site da Mind & Life.

Durante minha estadia em Dharamsala, tive o prazer de entrevistar diversos membros do nosso centro de pesquisas. Abaixo estão seis tópicos relevantes para pais, professores, gestores da educação e formuladores de políticas.

1. Se quisermos uma infância saudável ​​e preparada para o aprendizado, devemos cuidar da saúde mental de gestantes e novas mães.

Os sistemas de saúde atuais enfocam principalmente a saúde física das gestantes, com muito menos atenção à saúde mental durante e após a gravidez. Membra da Diretoria da MLI e Professora Associada de Psicologia e Neurociência na Universidade do Colorado em Boulder, a Ph.D Sona Dimidjian, vem explorando o impacto das práticas contemplativas em mulheres grávidas e no pós-parto em situação de vulnerabilidade emocional, especificamente através do uso da Abordagem Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT). Ao longo de um programa de oito semanas, as mulheres concentram sua atenção nas atividades diárias, como comer, assim como em quaisquer pensamentos e emoções difíceis que possam surgir. O programa provou ser eficaz em ajudar as mulheres a manter a saúde mental positiva, em parte, através da visualização de suas experiências através de uma perspectiva mais ampla.

2. Ajudar educadores a gerenciar melhor o estresse e reconectar-se com sua paixão pelo ensino

Vários pesquisadores-bolsistas compartilharam trabalhos realizadas para formar professores capazes de usar técnicas de mindfulness para aliviar o estresse. Qual foi o resultado? “Eles [professores que passaram por essa formação] são mais receptivos aos seus alunos e têm um ambiente de sala de aula que é mais emocionalmente positivo, solidário e seguro”, disse Patricia Jennings, Ph.D., Professora Associada da Escola Curry de Educação da Universidade da Virgínia. Com mais de duas décadas de experiência como professora e diretora de escola, Jennings conhece muito bem a pressão que os professores enfrentam. Por meio de seu trabalho, ela ajuda os educadores a manterem sua ética profssional e a paixão por um ensino significativo.

3. Combinar o foco atual na aprendizagem social e emocional (SEL) com o ensino de práticas contemplativas

Robert Roeser, Ph.D. e professor de Desenvolvimento Humano e Estudos da Família na Penn State University, dedicou grande parte de sua carreira ao estudo do impacto da educação contemplativa em crianças. Por meio do cultivo da compaixão, da atenção e da conscientização, da empatia e da perspectiva, essas metodologias nutrem nas crianças as habilidades práticas que contribuem para o sucesso delas ao longo da vida, afirma ele.

4. Para aumentar a atenção e melhorar o desempenho acadêmico, cultive a atenção plena entre os alunos e educadores

O ritmo acelerado da vida moderna e a natureza consumista dos nossos dispositivos tecnológicos contribuem para diminuir nossa capacidade atencional. Através de sua pesquisa, Amishi Jha, Ph.D. e Professor Associado de Psicologia da Universidade de Miami, está descobrindo que mesmo práticas de mindfulness curtas de 15 minutos por dia podem ajudar os professores a administrar melhor o estresse e estudantes de graduação a melhorarem sua atenção e evitarem esgotamento.

5. Cultivar comportamentos positivos e uma apreciação de nossa humanidade compartilhada

Enquanto programas de aprendizado emocional emocional surgiram em grande parte para prevenir comportamentos negativos como a violência e má conduta na escola, Kimberly Schonert-Reichl, professora de Desenvolvimento Humano, Aprendizagem e Cultura na Universidade de British Columbia, cita a ênfase crescente em nutrir comportamentos positivos como a empatia, o cuidado com os outros e a capacidade de resolver pacificamente os conflitos.

Da mesma forma, Sophie Langri e Tara Wilkie, Ph.Ds e co-fundadoras do Instituto de Educação Social e Emocional, enfatizam a importância de nutrir conexões humanas e a alfabetização emocional entre os estudantes. Seu CS3 Framework é dividido em três domínios: Eu, Você e Nós. Professores treinados na metodologia ganham ferramentas para ajudar os alunos a desenvolver não apenas a autoconsciência, mas uma apreciação de seu relacionamento e responsabilidade com a comunidade em geral. Com uma compreensão da interconexão fundamental da humanidade, os alunos aprendem desde cedo sobre o valor da cidadania engajada.

6. Engajar e ouvir os jovens cujas vozes e perspectivas são críticas para a renovação dos sistemas educacionais

“Quando falamos sobre fazer a diferença na vida das crianças, temos que aprender com elas e perguntar o que elas pensam que vai ajudá-las a ter uma vida significativa, para florescer e prosperar”, disse Schonert-Reichl. Em seu próprio trabalho, Schonert-Reichl empoderou alunos da 6a e 7a série para se tornarem pesquisadores. Eles coletaram amostras de saliva como parte de um experimento para explorar as mudanças epigenéticas após um programa de atenção plena. Os alunos aprenderam sobre ciência enquanto contribuíam com suas próprias perspectivas para compartilhar o processo com outros. Robert Roeser também vê o aprendizado mais participativo, democrático e liderado por estudantes como grande promessa para a educação que desejamos construir.

Fui encorajado a ouvir esses acadêmicos e educadores – muitos deles membros do Instituto Mind & Life – enquanto descreviam seus esforços para informar gestores públicos e influenciar mudanças sistêmicas maiores na educação. Embora o processo para a renovação educacional seja longo, esses são dedicados pesquisadores, educadores e campeões de mudança social que atualmente lideram o caminho a ser seguido rumo a uma educação para o coração.