September 20, 2019 6:01 pm Back to Home
Carol Inugai-Dixon avalia um novo currículo de aprendizagem social, emocional e ética
Recentemente, durante uma conversa casual com colegas educadores, ouvi alguém dizer que os estudantes do Programa International de Bacharelado Internacional (PIBI) têm tanto trabalho para dar conta que sua saúde física às vezes fica comprometida. Diante dessa colocação, outra pessoa respondeu dizendo que esse programa não é para todos, sugerindo uma teoria do tipo “sobrevivência do mais apto” para explicar essa abordagem de educação. Todos concordaram e mudamos de assunto. Na ocasião, acabei não expressando minha opinião contrária, mas, depois de terminar de planejar algumas aulas sobre o conceito de diligência, sinto que é hora de comunicar minha opinião.
A educação serve a muitos propósitos. Promover as qualificações necessárias para educação continuada e para o trabalho são alguns propósitos importantes. O PIBI é um exemplo seminal de uma qualificação respeitada por sua avaliação rigorosa e, portanto, tem validade para o ingresso em universidades em todo o mundo. Por outro lado, o PIBI é fundamentalmente uma expressão da missão do Bacharelado Internacional (BI), que tem como objetivo principal tornar o mundo um lugar melhor e mais pacífico por meio da educação para o desenvolvimento de uma mente internacional. Portanto, o que está implícito é que, se o PIBI não é para todos, a missão deve ser deixada nas mãos de uma elite que tem resistência e meios para passar nos exames do programa. Certamente uma lição do início do século XX é que esses sistemas de cima para baixo (top-down) não são capazes de produzir paz e bem-estar para todos. Em vez disso, entre os propulsores originais do PIBI, havia o objetivo de promover o desenvolvimento do pensamento crítico como uma proteção contra a lealdade cega ao autoritarismo e de auxiliar o florescimento do protagonismo individual necessário para a participação democrática que trabalhe para maximizar o bem-estar próprio e de outras pessoas. Isso significa que uma educação internacional, como concebida na missão do PIBI, deve ser para todos. E deve desenvolver os atributos pessoais, a consciência e os valores incorporados que sustentarão as ações diligentes de um cidadão de mente internacional. Essas são qualidades essenciais e adicionais às proezas acadêmicas.
De fato, nos documentos do BI, existem muitas referências às qualidades essenciais de uma pessoa de mente internacional, além da declaração da missão institucional. O Perfil do Aluno, considerado a missão do BI em ação, descreve o aluno ideal como alguém culto, mas também atencioso, compassivo, emocionalmente bem equilibrado e responsável por suas ações, respeitando todas as pessoas em todos os lugares.
As Abordagens para a Aprendizagem (APAs) enfatizam ainda mais o bem-estar emocional, bem como habilidades de pensamento e pesquisa, todas necessárias como base para a ação responsável. O curso de Teoria do Conhecimento (TDC) é crucial para refinar o pensamento crítico e expandir a conscientização sobre a natureza do conhecimento e como ele afeta nossas decisões e ações. O componente Criatividade, Atividade, Serviço (CAS) do núcleo do PIBI vincula o aprendizado à diligência e à ação. Porém, nenhuma dessas qualidades essenciais de uma mente internacional é avaliada de forma quantitativa como acontece com as seis outras disciplinas. E, é claro, isso indica que o alto valor atribuído aos escores das avaliações leva à idéia de que o PIBI não é para todos, resultando em baixa manifestação prática do currículo escrito.
Ao longo dos anos, participei de discussões sobre como trazer tais princípios, de desenvolver mentes internacionais, para o campo prático. Uma das ideias seria identificar as qualidades presentes no documento e depois avalia-las usando critérios semelhantes aos utilizados nas outras disciplinas do PIBI. A sugestão foi invariavelmente rejeitada com o argumento de que, embora os alunos aprendam rapidamente a exibir os critérios prescritos, não haveria como saber que esses eram necessariamente indicadores autênticos da natureza transformadora da educação aspiracional a que se refere o conceito de uma mente internacional. Porém, nenhuma outra sugestão foi apresentada. E assim as escolas lidam com a questão da melhor maneira que podem.
Na minha experiência, o aprofundamento da dimensão aspiracional do PIBI tem dependido de iniciativas isoladas. E, como já trabalhei em vários contextos, suspeito que aqueles que se alinharam com tal dimensão, às vezes, simplesmente não sabiam como proceder. Talvez isso seja em parte porque, além das descrições, não existe uma estrutura curricular explicita, nem o escopo e a sequência de práticas disponíveis, nem no BI, nem em outros programas. Ou melhor, até abril de 2019, quando o SEE Learning foi lançado.
O SEE Learning é um currículo de aprendizagem social, emocional e ética, desenvolvido pela Universidade Emory nos EUA. É uma estrutura conceitual baseada em evidências, com escopo e sequência para alunos do ensino básico. Baseados na ciência contemplativa, neurociência, psicologia e educação, os currículos para os anos iniciais e finais do ensino fundamental já estão disponíveis, além de um curso de orientação para professores. O currículo para ensino médio estará disponível em breve. Os pontos fortes do SEE Learning são muitos. Em um nível muito prático, esse programa fornece currículos que podem ser implementados de forma lógica, fazendo sentido para pais e professores, bem como (é claro) para os alunos. Ele se baseia e amplia o leque atual da aprendizagem socioemocional, para incluir práticas de desenvolvimento de emoções elevadas, como a compaixão. Com isso, fica claro o vínculo natural entre bem-estar social e emocional e a ação ética. O mais importante é que esse vínculo é desenvolvido por meio da criação de insights críticos em primeira pessoa, que conduzem ao aprendizado transformador e não através de uma didática baseada em “sermões”. Além disso, por meio da compreensão do pensamento sistêmico, os alunos aprendem como a ação ética no nível local terá resultados globais.
SEE Learning certamente é a peça que faltava, peça essa que muitos de nós, atraídos pela missão do PIBI, procuramos como um meio para praticar um currículo holístico, que desenvolva a mente internacional. Nota-se também sua relevância no sentido da mudança de foco, da centralidade dos escores de exames, para a missão original. Para dar base à iniciativa autêntica, o SEE Learning é capaz de conectar e potencializar os atributos do Perfil do Aluno, dos APAs e TDC que atualmente não possuem grande coesão. E porque está baseado numa perspectiva de desenvolvimento, todos os alunos podem participar. É absolutamente inclusivo. E, na verdade, aqueles que não estão em instituições filiadas ao BI também estão incluídos, uma vez que a orientação e os recursos estão disponíveis online e são gratuitos – e podem ser encontrados aqui: https://seelearning.emory.edu/user/register
Carol Inugai-Dixon é Professora Convidada da Universidade de Tsukuba, Japão, e Presidente da Associação de Pesquisa em Educação IB E-mail: inugai-d.carol.fp@un.tsukuba.ac.jp
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