December 10, 2021 2:59 pm Back to Home
Vossa Majestade, Membros do Comitê Nobel, Irmãos e Irmãs:
Estou muito feliz por estar aqui com vocês hoje para receber o Prêmio Nobel da Paz. Sinto-me honrado, humilde e profundamente comovido por terem concedido este importante prêmio a um simples monge do Tibete. Eu não sou ninguém especial. Mas, acredito que o prêmio seja um reconhecimento dos verdadeiros valores de altruísmo, amor, compaixão e não-violência que tento praticar, de acordo com os ensinamentos do Buda e dos grandes sábios da Índia e do Tibete.
Aceito o prêmio com profunda gratidão em nome dos oprimidos de todas as partes do mundo e de todos aqueles que lutam pela liberdade e trabalham pela paz mundial. Aceito como um tributo ao homem que fundou a tradição moderna da ação transformadora não-violenta – Mahatma Gandhi – cuja vida me ensinou e inspirou. E, claro, aceito este prêmio em nome dos seis milhões de tibetanos, meus corajosos compatriotas do Tibete, que sofreram e continuam a sofrer muito. Eles confrontam uma estratégia calculada e sistemática que visa a destruição de suas identidades nacionais e culturais. O prêmio reafirma nossa convicção de que tendo como armas a verdade, coragem e determinação, o Tibete será libertado.
Não importa de que parte do mundo venhamos, somos todos basicamente seres humanos iguais. Todos nós buscamos a felicidade e tentamos evitar o sofrimento. Temos as mesmas necessidades e preocupações humanas básicas. Todos nós, seres humanos, queremos ter liberdade e o direito de determinar nosso próprio destino como indivíduos e como povos. Essa é a natureza humana. As grandes mudanças que estão ocorrendo em todos os lugares do mundo, da Europa Oriental à África, são uma clara indicação disso.
Na China, o movimento popular pela democracia foi esmagado pela força brutal em junho deste ano. Mas não acredito que as manifestações tenham sido em vão, porque o espírito de liberdade foi reacendido entre o povo chinês e a China não pode escapar do impacto desse espírito de liberdade que permeia muitas partes do mundo. Os corajosos estudantes e seus apoiadores mostraram à liderança chinesa e ao mundo a face humana daquela grande nação.
Na semana passada, vários tibetanos foram novamente condenados a penas de prisão de até dezenove anos em um julgamento em massa, possivelmente com a intenção de assustar a população antes do evento de hoje. Seu único “crime” foi a expressão do desejo dos tibetanos pela restauração da independência de seu amado país.
O sofrimento do nosso povo durante os últimos quarenta anos de ocupação está bem documentado. A nossa luta tem sido longa. Sabemos que nossa causa é justa. Como a violência só pode gerar mais violência e sofrimento, nossa luta deve permanecer não-violenta e livre de ódio. Estamos tentando acabar com o sofrimento do nosso povo, sem infligir sofrimento aos outros.
É com isto em mente que propus negociações entre o Tibete e a China em inúmeras ocasiões. Em 1987, fiz propostas específicas em um plano de cinco pontos para a restauração da paz e dos direitos humanos no Tibete. A proposta incluía a conversão de todo o planalto tibetano em uma Zona de Ahimsa, um santuário de paz e não-violência onde o ser humano e a natureza possam viver em paz e harmonia.
No ano passado, detalhei esse plano em Estrasburgo, no Parlamento Europeu. Acredito que as idéias que expressei nessas ocasiões são realistas e razoáveis, embora tenham sido criticadas por alguns de meu povo como sendo muito conciliatórias. Infelizmente, os líderes da China não responderam positivamente às sugestões que fizemos, que incluíam concessões importantes. Se essa situação continuar, seremos compelidos a reconsiderar nossa posição.
Qualquer relação entre o Tibete e a China terá que se basear no princípio de igualdade, respeito, confiança e benefício mútuos. Também terá que se basear no princípio que os sábios governantes do Tibete e da China estabeleceram em um tratado ainda em 823 d.C., esculpido no pilar que ainda hoje está em frente ao Jo-khang, o santuário mais sagrado do Tibete, em Lhasa, que afirma que “os tibetanos viverão felizes na grande terra do Tibete, e os chineses viverão felizes na grande terra da China”.
Como monge budista, minha preocupação se estende a todos os membros da família humana e, de fato, a todos os seres sencientes que sofrem. Acredito que todo sofrimento seja causado pela ignorância. As pessoas infligem dor umas às outras na busca egoísta de felicidade ou satisfação. Mas a verdadeira felicidade vem de um sentimento interior de paz e contentamento, que por sua vez deve ser alcançado através do cultivo do altruísmo, do amor e da compaixão e da eliminação da ignorância, do egoísmo e da ganância.
Os problemas que enfrentamos hoje, conflitos violentos, destruição da natureza, pobreza, fome, etc., são problemas criados pelo homem e que podem ser resolvidos através do esforço humano, da compreensão e do desenvolvimento de um sentimento de fraternidade e irmandade. Precisamos cultivar a responsabilidade universal para com a humanidade, uns pelos outros e pelo planeta que compartilhamos. Embora eu considere minha própria religião budista útil para gerar amor e compaixão, mesmo por aqueles que consideramos nossos inimigos, estou convencido de que todos podem desenvolver um bom coração e um senso de responsabilidade universal com ou sem religião.
Com o impacto sempre crescente da ciência em nossas vidas, a religião e a espiritualidade têm um papel maior a desempenhar, lembrando-nos de nossa humanidade. Não há contradição entre os dois. Cada uma nos oferece valiosos insights sobre a outra. Tanto a ciência quanto os ensinamentos do Buda nos falam da conexão fundamental entre todas as coisas. Esta compreensão é crucial se quisermos tomar medidas positivas e decisivas sobre a urgente preocupação global com o meio ambiente. Acredito que todas as religiões perseguem os mesmos objetivos – o de cultivar a bondade humana e trazer felicidade a todos os seres humanos. Embora os meios possam parecer diferentes, os fins são os mesmos.
Ao entrarmos na última década deste século, estou otimista de que os antigos valores que sustentaram a humanidade estão hoje se reafirmando e nos preparam para um século XXI mais gentil e feliz.
Rezo por todos nós, opressores e amigos, para que juntos consigamos construir um mundo melhor através da compreensão e do amor humano, e que ao fazê-lo possamos reduzir a dor e o sofrimento de todos os seres sencientes.
Obrigado.
Tradução livre de Jeanne Pilli
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